Atleta jogou futebol pela UFPE no JUBs em Recife
Alguns estudantes-atletas se dividem entre os estudos e treinos. Outros entre os estudos, treinos e trabalho. A Maria Allyce Flor se divide entre isso tudo e mais uma função: a maternidade.
A estudante de Educação Física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) tem 24 anos e teve o pequeno Thales há 3 meses, na reta final do curso. O susto foi grande no começo, mas, com muito amor e uma ótima rede de apoio, deu tudo certo.
A importância do esporte
O esporte sempre teve um lugar especial no coração de Flor, como é chamada pelos amigos. Ela se interessou pela capoeira, depois foi para o karatê, e acabou chegando no taekwondo, onde começou a competir.
Mas, na época do Enem, ela deu uma pausa nos treinos para estudar. Assim que entrou na UFPE, a atleta foi atrás dos times da universidade.
Achou o handebol, começou a treinar e virou goleira do time. Um pouco depois, veio a pandemia e, nesse período, o time acabou. Quando as aulas voltaram, ela migrou para o futsal. Lá, também começou no gol, mas, hoje em dia, atua como pivô.
“Parece que, quando chego em quadra, todos os problemas somem, que o mundo ‘lá fora’ não existe. É uma sensação de lar. E falo isso sem exageros, pois o mundo dos esportes sempre foi meu meio de sair dos problemas que enfrentei”, explicou.
Flor disputou os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) com o time de futebol da UFPE. Mal tinha voltado a treinar quando convidaram a recém-mãe para completar o time. Ela, sem pensar duas vezes, foi.
Gravidez
Na reta final do curso, veio o susto: Maria Allyce estava grávida.
“Quando descobri fiquei em choque, porque não era o que eu planejava. Até mesmo por conta da minha rotina de trabalho e esportes. Mas, hoje em dia, sou completamente apaixonada pelo meu filho”, contou.
Ela já sabia que a parte mais difícil da gravidez seria ficar sem treinar. Por isso, escondeu do time e do técnico que estava grávida.
“Antes de engravidar eu já jogava e malhava. Saí da academia, mas continuei jogando sem contar para ninguém que estava grávida, com medo de me mandarem ficar em casa. Apenas no terceiro mês que comentei com o técnico, que me deu uma bronca”, disse ela aos risos.
A partir daí, Flor deu uma pausa nos treinos e focou totalmente na sua saúde e do bebê.
“Essa minha atitude aconteceu por conta da minha paixão pelo esporte e por eu não querer ficar sem praticá-lo”, completou.
Foram meses muito difíceis sem praticar esporte: “Eu chorava bastante por não poder estar fazendo o que eu amo. Amava passar esse tempo com meu filho, mas, ao mesmo tempo, não conseguia me sentir 100% bem sabendo que não estava praticando meus hobbies”, desabafou.
Volta às quadras
“A vontade de voltar a treinar era enorme. Mas, antes de tudo, sempre penso no Thales, porque agora é assim, até inconscientemente. Eu nunca pensei que fosse o amar da maneira que amo! Você se reinventa a cada dia com cada evolução do bebê, e você fica tão feliz por isso que o amor só aumenta!”
O lado mãe estava se sentindo completo, mas o lado atleta não. Ela nunca deixou de pensar na volta às quadras. Por isso, assim que foi liberada pelo médico, voltou aos treinos.
“Depois dos 45 dias do parto, na primeira consulta do Thales, a médica autorizou usar fórmula. Eu amamento o Thales e, quando não estou, ele toma fórmula com minha sogra.”
Rede de apoio
Maria Allyce conta com a ajuda do marido e pai de Thales, Paulo, e dos sogros.
As companheiras de equipe e o técnico também apoiam como podem. Em um dos jogos do JUBs, por exemplo, precisou faltar porque Thales não estava bem e todos entenderam.
“Quando me atraso, quando preciso sair cedo ou quando preciso faltar, o time compreende super bem. O time da UFPE, para mim, é uma família.”
Estudos e trabalho
Além da maternidade, da graduação e dos treinos e competições, Flor também é professora de Educação Física em uma escola e concurseira.
“É tudo ainda muito novo para mim. Ainda estou de licença maternidade, que termina na penúltima semana de maio, mas acho que vai ser bem intrigante essa nova rotina. Porém, com a rede de apoio que tenho, creio que tudo ficará mais fácil.”
Futuro atleta?
Além de Maria Allyce, Paulo também é envolvido com esporte. O pai de Thales joga futebol e futsal. Então, apesar de só ter três meses, o bebê tem tudo pra seguir os passos dos pais.
“Eu e Paulo praticamos esportes. Ele joga futebol e futsal, então o que nos vem à mente são esses dois, que são os nossos ’em comum’. Mas, se ele vier a escolher outro esporte, irei apoiar com toda certeza.”
A importância da educação
Flor sabe que é privilegiada por conseguir terminar a graduação e, principalmente, de ter uma rede de apoio tão presente.
“Sei que nem toda mãe tem essa oportunidade de fazer uma graduação, logo, posso dizer que sou privilegiada por todo apoio que tenho para correr atrás dos meus objetivos.
De todo o esforço que tenho e tive de ter a minha vida inteira, por tudo o que passei e toda a trajetória de superação – apesar de ter apenas 24 anos, já passei por poucas e boas – quero que meu filho olhe para minha dedicação e se espelhe para que ele entenda que a educação abre portas e que ele pode ter seus estudos e também fazer mais coisas que se ama fazer.
Quero ensinar Thales a lutar pelo que ele almejar. Seja nos estudos, seja no esporte, seja em ambos.”
Confira aqui a reportagem da EBC sobre a atleta.