O que são? O que fazem? Como vivem?
Você, universitário, provavelmente sabe responder todas essas perguntas. Talvez até seja membro de uma Associação Atlética Acadêmica (A.A.A). No entanto, as Atléticas, como são popularmente conhecidas, ainda são novidade para alguns.
Quem olha de fora, muitas vezes acha que as Atléticas universitárias só sabem fazer festa. Porém, o trabalho de uma A.A.A, vai muito além disso. O principal objetivo dessas organizações é fomentar o esporte dentro de suas Instituições de Ensino Superior (IES). Oscar Cantini, conselheiro da Atlética de Medicina da UFRJ define a organização como um catalizador do esporte universitário.
Uma mesma IES pode abrigar uma ou mais Atléticas, já que essas organizações podem ser constituídas por um ou mais cursos. A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) por exemplo, tem 27 associações. Dentre as atividades desenvolvidas pelas A.A.A, estão: a realização de treinos e competições esportivas, o apoio ou a criação de projetos sociais dentro e fora da faculdade e também, a promoção da integração entre os estudantes, sejam eles atletas ou não.
Os treinos são o ponto alto do trabalho das Atléticas, uma vez que elas são responsáveis por mediar os espaços da IES para a prática esportiva dos estudantes. Na Atlética de Direito da UFPR por exemplo, há treinos semanais para várias modalidades: Futsal, Futebol, Handebol, Basquete, Vôlei, Vôlei de Praia, Atletismo, Natação, Xadrez, Judô, Tênis de Mesa e Tênis de Campo.
Fora a parte esportiva, as A.A.A são organizadas quase como empresas, muitas delas têm até estatuto. Existem cargos e funções bem delimitadas, como presidência, vice-presidência, diretoria financeira, diretoria de esportes, diretoria de marketing e comunicação, diretoria de eventos, diretoria social e outras. Cada integrante tem suas responsabilidades que no fim, se somam a um trabalho de equipe.
A Atlética de Medicina da UFRJ por exemplo, foi regulamentada em 2016. Oscar Cantini, conselheiro da associação, explica que nesse ano foi criado um estatuto, que regulamentou, entre outras coisas, as eleições periódicas para a organização. Em seguida, criou-se também um processo seletivo, visando democratizar cada vez mais o ingresso na diretoria da associação.
Financeiramente, as Atléticas se mantêm de maneira independente e a fonte de receita varia de organização para organização. As atividades mais comuns para a arrecadação de fundos são: realização de festas e eventos em geral, venda de produtos (como canecas, camisetas e outros), cobrança da associação, por meio de mensalidade e do sistema sócio torcedor e patrocínio.
A Atlética de Direito da UFPR se mantém a partir de um plano de sócios mensal, como explica o vice-presidente André Nisihara. Segundo ele, o plano mínimo é de R$30,00 e é indispensável para o acesso a todos os treinos que despendem gastos, como treinadores. “Também, o plano confere uma série de descontos em produtos, festas, pacotes e estabelecimentos parceiros em Curitiba e no Brasil inteiro pela internet”, complementa.
Hoje até parece que existe um manual de como fundar e organizar uma atlética, porém, no início o movimento era mais concentrado em cursos tradicionais, como Medicina, Engenharia e Direito. A Atlética de Direito da UFPR é a associação esportiva universitária mais antiga do Paraná, fundada em 11 de agosto de 1943.
André Nisihara, vice-presidente da organização conta que desde a fundação a Atlética visa promover o esporte no meio universitário, tanto em âmbito interno quanto externo, mas que nem sempre o movimento foi grande assim. Segundo ele, nos primórdios, ainda não existiam grandes torneios inter atléticas, de modo que a prática e competição esportiva se restringia apenas aos acadêmicos do curso. Há registros inclusive de jogos de futebol entre as turmas realizados no Estádio Joaquim Américo Guimarães, atual Arena da Baixada.
Ao longo de seus 77 anos, a associação assistiu ao surgimento de inúmeras outras. O movimento de Atléticas dentro da Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi ganhando força no decorrer das décadas, até que no fim dos anos 2000 várias Atléticas hoje ativas foram fundadas. Por todo o Brasil o movimento é crescente. Atualmente, esse tipo de organização acadêmica – formada de maneira independente e voluntária por um grupo de estudantes – se popularizou e já alcançou públicos diversos, como os dos cursos de jornalismo, arquitetura, música e outros.
Com a expansão das Atléticas novas práticas foram adotadas e hoje, não é só atleta que faz parte dessas organizações. A torcida é um ponto fundamental dentro de uma A.A.A, seja de maneira tímida, com aglomerados de pessoas gritando e vibrando durante os jogos, seja com equipes de Cheerleading ou com as baterias universitárias.
A Charanga é a primeira bateria universitária do Brasil e foi criada em 1969, por alunos da antiga Faculdade Federal de Engenharia da Universidade de Uberlândia. Anos depois, passou a ser oficialmente a bateria da Atlética de Engenharia da UFU, que reúne mais de 10 cursos da área na Instituição e desde então defende o preto e amarelo, cores da A.A.A. “A Charanga se mantém em peso nas arquibancadas para torcer pela Atlética da Engenharia”, conta Leonardo Couto, atual presidente da bateria.
Além de todo trabalho visível, desenvolvido pelas Atléticas, Oscar Cantini, da UFRJ, destaca outro ponto relevante no trabalho as associações que nem sempre é tão aparente: o apontamento de valores esportivos na vida dos envolvidos. Ética, companheirismo, trabalho em equipe, respeito, disciplina e cumprimento de regras são alguns que, para Oscar, são constantes na vida do atleta universitário.
Tantos treinos, competições, torcida e, acima de tudo companheirismo, gera nos estudantes um sentimento de pertencimento. Eles passam a amar a Atlética, suas cores e seu brasão. Torcem para seus atletas do mesmo modo que algumas pessoas torcem para times de futebol. Defendem seus times e colecionam histórias. Para André, da UFPR, a Atlética proporciona grandes momentos e amizades que fazem valer todo o esforço e dedicação. “Como dizem todos os nossos formados ‘a atlética fez minha faculdade’’, finaliza.