A gente já comentou aqui sobre os atletas que disputaram os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e que antes passaram pelo esporte universitário nacional (se você não viu, espia só AQUI). Mas, ainda em solo Japonês, a CBDU também marcou presença na arbitragem! O Diretor Administrativo da Confederação, Mario Ferro, compôs o time de arbitragem do vôlei de praia e viveu de pertinho todas as emoções que uma Olimpíada pode proporcionar. Até alcançar esse feito, foram 25 anos de trajetória. Confira:
Fotos: arquivo pessoal
Natural de Recife – PE, o Mario é brasiliense desde 2005, quando se mudou para a capital do país. Ele teve seu primeiro contato com o voleibol ainda na infância, por influencia dos seus pais, que praticavam a modalidade. “E aí tinha racha dos amigos dos meus pais na praia, e eu ficava brincando.. e aquilo foi tomando gosto, tomando gosto, até que eu fui fazer um teste na equipe do colégio onde eu estudava”, relembra Mario. Depois dos primeiros jogos no colégio, Mario não parou mais e jogou até a graduação: “Joguei JUBs também, meu último JUBs foi em 1989”.
Mas além de estar dentro das quadras, Mario também se interessou pela arbitragem, que, segundo ele, começou quase que ao acaso.
– A arbitragem começou não vou dizer como brincadeira, porque eu via as pessoas atuando e aquilo ali é sério, você está decidindo algumas coisas né, então podia atrapalhar quem estava jogando. Mas tinha um evento, na época da faculdade em Campina Grande, chamado Olimpíadas do Exército. E ficava muito caro tirar os árbitros de João Pessoa e levar pra Campina Grande, então as próprias pessoas das equipes que não estavam jogando, arbitravam. E aí um dia eu pedi pra começar a apitar, o que eu via os outros, o que eu via dos meus jogos, dos árbitros da Confederação apitando, eu sempre gostei de olhar pra entender – afirma Mario.
O primeiro curso oficial de arbitragem, que dá o título de árbitro confederado, veio em 1992, 6 anos após a primeira experiência na função. E a primeira competição em 1993: o Mundial de Vôlei de Praia. Em 1996 Mario realizou o curso de árbitro internacional de vôlei de praia, que foi o primeiro de toda história da modalidade. “Até então não tinha árbitro especializado em vôlei de praia, existiam os árbitros internacionais só de voleibol, mas ninguém que fosse voleibol de praia”, explica Mario. Ele, e toda sua geração de colegas árbitros, migraram da quadra para a areia. “E eu era o mais novo, tanto que hoje eu sou o último, 31 de dezembro acaba toda essa geração; 55 anos é o limite de idade da Federação Internacional de Voleibol (FIVB)”, complementa.
Antes de Tóquio 2020, Mario já havia participado da Rio 2016. Ele explica que os Jogos Olímpicos funcionam no sistema de convocação, a partir da análise e pontuação ao longo de toda carreira: “Você tem que participar dos eventos, você tem avaliações, você tem notas mínimas; senão você não recebe escala para a temporada seguinte. […] Toda competição você é avaliado, você recebe uma nota e assim por diante, isso vai acumulando”, esclarece Mario. Já nos Jogos Olímpicos, quem decide qual árbitro vai apitar qual jogo é o delegado de arbitragem, que segue sempre a regra da neutralidade.
E para quem viveu a Rio 2016, em casa; no Brasil, e com muito calor humano, Tóquio 2020 pode ter sido um tanto quanto excepcional. “Lá foi uma Olimpíada diferente, por toda situação que se teve e ainda tem, e aí esse diferente fez aumentar a pressão. Porque apesar de não ter ninguém lá, chamou muito mais a atenção do mundo, com certeza tinham muito mais pessoas assistindo aos jogos”, afirma Mario. Além disso, os protocolos se segurança sanitária foram rígidos e seguidos a risca: “Teste PCR todos os dias, e um aplicativo, que eu fui obrigado a ligar no dia 11 de julho, e que desde então mostrava para onde eu ia, quanto tempo eu ficava fora do meu endereço e essas coisas todas”.
E o brilho no olhar durante a entrevista não mente: os Jogos Olímpicos são emoção do início ao fim. Mario conta que, mesmo depois de tantos anos de carreira e incontáveis experiencias em quadra, a tensão e o nervosismo antes de cada partida ainda é existente, “porque você tem que apitar para você, você não pode apitar pra A ou pra B, você tem que apitar pro jogo, então você tem que ser neutro”. Sobre possíveis erros e falhas ele é direto:
– Aconteceu, acontece, e se eu apitar mais uma vez vai acontecer. Com toda essa tecnologia que tem hoje eu tenho que julgar com o que eu vejo com os meus olhos, com os olhos humanos. Não é a mesma coisa de uma máquina, que o cara vai voltar, vai pegar frame a frame. No olho vivo não dá pra ver isso. Então tiveram erros sim. Depois do jogo já chorei, decepcionado – conta Mario.
25 anos de carreira como árbitro, incontáveis competições nacionais e internacionais, dois Jogos Olímpicos; 13 jogos apitados em Tóquio 2020. Uma competição simbólica pelo momento que o mundo vive, mas simbólica também por ser a última, a despedida oficial das quadras. “Para o árbitro de modalidades ditas não profissionais o ápice é os Jogos Olímpicos. Então eu atingi o ápice da carreira, de ir a duas”, finaliza Mario.