A memória é a soma de experiências passadas que permanecem na mente e é recorrentemente utilizada como lembrança. Resgatar memórias é também preservar a história, é refletir sobre o que nos antecedeu. Em um desses resgates nos deparamos com a feliz recordação do Arquiteto e Designer Danilo Barbosa, criador do projeto de sinalização de Brasília, e que em 1970 ganhou um concurso cultural promovido pela CBDU referente a identidade visual dos Jogos Universitários Brasileiros daquele ano.
Natural de São José do Rio Preto, São Paulo, Danilo se mudou para a Capital Federal em 1968, para estudar Arquitetura na Universidade de Brasília (UnB). “O curso iniciava no Instituto Central de Artes, que era uma estrutura inovadora para o ensino da arquitetura e das artes de forma geral”, explica Danilo. Ele conta que os alunos tinham contato com várias disciplinas, desde desenho gráfico, até música e outros tipos de artes. Dentro da universidade os estudantes também aplicavam a teoria aprendida em uma gráfica experimental, que possibilitava a prática e o estudo de designer gráfico, que na época era chamado de programação visual.
Foi nesse momento da graduação, ainda no 4º período e experimentando todas as possibilidades que a área permitia, que Danilo ficou sabendo do concurso da CBDU e resolveu se inscrever. “Lançaram esse concurso e participaram inclusive empresas do Rio de Janeiro, São Paulo, pessoal de publicidade, foram cerca de 50 trabalhos apresentados, e eu tive essa felicidade de ganhar esse concurso, que me entusiasmou ainda mais a me dedicar nessa área”, relembra. O concurso tinha como finalidade eleger o cartaz de propaganda do XXI Jogos Universitários Brasileiros, o JUBs, que aconteceu em Brasília no ano de 1970.
Danilo explica que o desenho elaborado por ele traz as letras J, U e B, iniciais do nome da competição, na forma das linhas, e que a junção delas, ao centro, representa uma bola em movimento. Todos os elementos tipográficos do cartaz foram feitos a mão por ele, que desenhou um a um. “O próprio desenho das letras, como eu era estudante e não tinha grana, eu desenhei toda a tipografia. Tanto que a qualidade é bastante primária”, destaca Danilo. Ao resgatar o momento na memória, o arquiteto diz que sente emoção, “porque foi o primeiro prêmio da minha carreira, então foi um evento que me impulsionou, e que me deu realmente mais vontade de atuar”.
Apaixonado por designer gráfico, o concurso da CBDU foi o primeiro entre muitos que Danilo viria a ganhar. Em 1990 foi responsável pela criação do símbolo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em 1999 foi premiado na Bienal de Arquitetura de Brasília com o projeto para o conjunto arquitetônico do STJ – em conjunto com outras 4 pessoas, e em 2009 venceu o concurso da logomarca dos 50 anos de Brasília.
Já no mercado de trabalho, Danilo foi professor na UnB entre 1979 e 2003, e arquiteto na Companhia de Planejamento de Brasília (Codeplan), onde coordenou seu projeto mais famoso: o plano de sinalização de Brasília, um ícone na identificação da cidade. Em 2012 o projeto rompeu fronteiras e foi reconhecido internacionalmente, quando uma das peças passou a integrar o acervo permanente de arquitetura e design do Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque.
E em 2021, 51 anos após a realização do XXI JUBs, no qual Danilo foi responsável pela identidade visual, a competição retorna a Brasília, para sua 68º edição. Nós já estamos contando os dias e ansiosos pelas novas memórias que o evento irá proporcionar.